quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Arriscando uma análise Semiótica...


Sob as pontes da cidade de São Paulo abriga-se um verdadeiro batalhão de excluídos do sistema. Essas pessoas advindas das mais variadas regiões do país, dividem estes espaços com a fauna urbana -pombos, cachorros, ratos, baratas etc.
Entre estes habitantes das ruas destacava-se nas décadas de 70 e 80, os emigrantes nordestinos, que devido às secas prolongadas vieram a São Paulo em busca de oportunidades e melhores condições de vida. Este panorama prevaleceu até o início dos anos 90, quando a recessão econômica democratizou sua vilania e levou para sob as pontes, novos desabrigados oriundos de classes diversas. Nativos da cidade e até imigrantes de países vizinhos como Colômbia, Paraguai, Peru e Equador começaram a engordar este exército de excluídos. Esta realidade permanece até o presente momento e é sob este olhar atual, de primeira década deste milênio que arriscamos ( Eu e Eu mesmo) uma breve analise da foto que ilustra este texto..
Antecipando, podemos afirmar que a foto em si já é um ícone, por se tratar de uma representação impressa em papel, com pigmentos de tinta, bidimensional e que representa o local registrado, sem, entretanto possuir as características físicas deste. Esta representação indica a existência de real de tal local. Além disso, o universo de sob a ponte, simboliza a desigualdade social e narra parte de seus aspectos.
Na imagem da foto nota-se em destaque uma mulher deitada no chão, sobre um cobertor que faz às vezes de colchão. Enrolada com um pano amarelo, próxima ao que aparenta ser um caixote de madeira com alguns pertences, tem deitado junto a si, um cachorro com quem divide seu cobertor. Imediatamente à sua direita está outro cachorro sentado. No mesmo plano há pombos ciscando por entre restos de comida e a sujeira do chão. A posição da pessoa, localizada num plano inferior, abaixo da linha central da foto, no mesmo nível dos animais, dividindo mesmo espaço insalubre, simboliza a redução do homem ao primitivo. A grosso modo, poderíamos afirmar que os “habitantes” de sob a ponte representam o conceito da pobreza e da precariedade dos laços sociais da urbe. Nesta mesma foto, vemos automóveis passando pela via e que se posicionam num plano mais alto do que o dos “habitantes”. Este veículos levam seus proprietários de seus lares aos seus trabalhos e vice e versa. Fazem uso das pontes como meio de transpor obstáculos. Respeitam a função destas pontes, (não se fazem pontes para se morar sob elas) projetadas pelos engenheiros a serviço das empreiteiras, ignorando outra vocação destas estruturas. Já a ponte, a estrutura que se apresenta como o meio, o símbolo que divide, abriga e estigmatiza , representa é ao mesmo tempo índice - quando se olha por sob ela- e símbolo -quando se pensa em sua função como elemento viário...
Por se tratar a Semiótica de uma ciência que requer muito estudo e capacidade interpretativa, incorremos na possibilidade de interpretações superficiais chegando-se aqui a repetições argumentativas, sem, contudo desvendar um todo. Ressalta-se que Pierce propôs em seus estudos de entrecruzamento combinatório não apenas três argumentos analíticos, (ícone, índice e símbolo) mas de diversas combinações deles, o que nos conduz mais uma vez, a uma necessidade de um aprofundamento de seus estudos.