quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Arriscando uma análise Semiótica...


Sob as pontes da cidade de São Paulo abriga-se um verdadeiro batalhão de excluídos do sistema. Essas pessoas advindas das mais variadas regiões do país, dividem estes espaços com a fauna urbana -pombos, cachorros, ratos, baratas etc.
Entre estes habitantes das ruas destacava-se nas décadas de 70 e 80, os emigrantes nordestinos, que devido às secas prolongadas vieram a São Paulo em busca de oportunidades e melhores condições de vida. Este panorama prevaleceu até o início dos anos 90, quando a recessão econômica democratizou sua vilania e levou para sob as pontes, novos desabrigados oriundos de classes diversas. Nativos da cidade e até imigrantes de países vizinhos como Colômbia, Paraguai, Peru e Equador começaram a engordar este exército de excluídos. Esta realidade permanece até o presente momento e é sob este olhar atual, de primeira década deste milênio que arriscamos ( Eu e Eu mesmo) uma breve analise da foto que ilustra este texto..
Antecipando, podemos afirmar que a foto em si já é um ícone, por se tratar de uma representação impressa em papel, com pigmentos de tinta, bidimensional e que representa o local registrado, sem, entretanto possuir as características físicas deste. Esta representação indica a existência de real de tal local. Além disso, o universo de sob a ponte, simboliza a desigualdade social e narra parte de seus aspectos.
Na imagem da foto nota-se em destaque uma mulher deitada no chão, sobre um cobertor que faz às vezes de colchão. Enrolada com um pano amarelo, próxima ao que aparenta ser um caixote de madeira com alguns pertences, tem deitado junto a si, um cachorro com quem divide seu cobertor. Imediatamente à sua direita está outro cachorro sentado. No mesmo plano há pombos ciscando por entre restos de comida e a sujeira do chão. A posição da pessoa, localizada num plano inferior, abaixo da linha central da foto, no mesmo nível dos animais, dividindo mesmo espaço insalubre, simboliza a redução do homem ao primitivo. A grosso modo, poderíamos afirmar que os “habitantes” de sob a ponte representam o conceito da pobreza e da precariedade dos laços sociais da urbe. Nesta mesma foto, vemos automóveis passando pela via e que se posicionam num plano mais alto do que o dos “habitantes”. Este veículos levam seus proprietários de seus lares aos seus trabalhos e vice e versa. Fazem uso das pontes como meio de transpor obstáculos. Respeitam a função destas pontes, (não se fazem pontes para se morar sob elas) projetadas pelos engenheiros a serviço das empreiteiras, ignorando outra vocação destas estruturas. Já a ponte, a estrutura que se apresenta como o meio, o símbolo que divide, abriga e estigmatiza , representa é ao mesmo tempo índice - quando se olha por sob ela- e símbolo -quando se pensa em sua função como elemento viário...
Por se tratar a Semiótica de uma ciência que requer muito estudo e capacidade interpretativa, incorremos na possibilidade de interpretações superficiais chegando-se aqui a repetições argumentativas, sem, contudo desvendar um todo. Ressalta-se que Pierce propôs em seus estudos de entrecruzamento combinatório não apenas três argumentos analíticos, (ícone, índice e símbolo) mas de diversas combinações deles, o que nos conduz mais uma vez, a uma necessidade de um aprofundamento de seus estudos.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pedalando pela Cidade


Poluição, trânsito, falta de espaço, custo e sedentarismo entre outros, são motivos de sobra para se pensar seriamente na busca de uma solução para o problema de transporte nas grandes cidades.
Experiências como as da Cartagena na Espanha e Amsterdã na Holanda, onde as pessoas dispõem de ciclovias e de bicicletas para uso público são bastante promissoras e exemplo freqüentemente citados pelos defensores do uso deste meio de transporte.
Seria uma solução ideal para o trânsito caótico de São Paulo, se não fosse por alguns pequenos detalhes, normalmente desprezados pelos defensores da bandeira do “verde”.
De início, deve-se considerar a geografia da cidade de São Paulo. Além das grandes distâncias que separam as zonas de trabalho das zonas residenciais, temos uma cidade com uma topografia irregular, com muitas zonas de morros e estrangulamentos devido às pontes sobre os rios e córregos além das vias férreas que cortam a cidade. Também a mal projetada malha viária, absolutamente voltada para o veículo automotor e que sequer respeita a condição de pedestre. Aliado a esses fatores, existe uma cultura na qual se prioriza o transporte por carro, sonho de consumo e sinônimo de status. Também não se dispõem de uma vontade política de conscientização ecológica, além do desrespeito pela propriedade pública ou privada. Seria inconcebível, por exemplo, um programa de uso comum de bicicletas, pois as mesmas seriam em tempo recorde subtraídas para uso privado.
A solução para estes problemas pode estar na utilização da estrutura de transporte já existente de maneira mais inteligente, priorizando-se os meios de transporte coletivos de massa como trens e metrô, a criação de vias exclusivas para o uso de motocicletas, o incentivo ao uso de bio-combustíveis e o mais importante de todos, a educação e conscientização das novas gerações quanto ao uso racional dos meios de transportes, o que pode certamente incluir a bicicleta para deslocamento em distâncias curtas e nos finais de semanas nos quais o volume de veículos motorizados é menor.

O Gato, antes animal selvagem, que pouco a pouco foi se acostumando ao convívio com o homem, tornando-se até seu companheiro doméstico, tem sofrido mutações que ultrapassam o campo da genética.As mutações sociais.
Essas mudanças podem ser facilmente percebidas nas periferias e principalmente nas favelas das grandes cidades.

Montando seu Kit de ferramentas



Muitos reparos domésticos podem ser feitos sem a ajuda de um profissional o quê, além da economia, pode ser muito divertido.Para isso , é necessário antes de tudo, que você possua ferramentas adequadas para o tipo de reparo a ser feito e assim evitar transtornos e os eventuais “reparos dos reparos”.
Um kit básico de ferramentas deve conter martelo, alicate, chaves de fendas e phillips, e uma porção de pregos, parafusos e buchas. Entretanto, é necessário que as ferramentas sejam de boa qualidade para que resistam ao serviço e não causem acidentes.
O mercado dispõe de uma variedade enorme de produtos que podem variar muito em qualidade e preço.
Uma sugestão de itens que podem compor uma caixa de ferramentas básica e que atende a necessidade da maioria dos reparos domésticos é a seguinte:

Martelo de unha 20mm
Chave de fenda ponta chata 1/8x3"
Chave de fenda ponta chata 3/16x5"
Chave de fenda ponta chata 1/4x4"
Chave de fenda ponta Phillips 1/8x3"
Chave de fenda ponta Phillips 3/16x4"
Chave de fenda ponta Phillips 1/4x4"
Alicate universal revestido
Alicate revestido de bico fino
Chave de aperto ajustável ou chave Inglesa
Teste elétrico 110/220 volts
Arco de serra ou mini arco-de-serra
Estilete
Trena 3 metros
Pregos vários tamanhos
Parafusos e buchas de vários tamanhos
Reparos de torneira ( “Courinho”)
Fita isolante
Fita teflon
Cola super bonder

É fundamental também a aquisição de uma furadeira elétrica e um jogo de brocas para madeira e aço assim como brocas com ponta dura (vídia) para alvenaria. Certamente vale investir numa furadeira com martelete que faz uma enorme diferença na hora de furar uma parede de alvenaria ou concreto.

Armazenando suas ferramentas

A maneira mais tradicional de se guardar as ferramentas é sem dúvida a boa e velha caixa de ferramentas.
Existem diversos modelos feitos de metal, plástico ou madeira e que podem ter as mais variadas cores e formas, com gavetinhas, articuladas, com caixinhas removíveis e etc.
O importante é que o tamanho seja adequado à quantidade de ferramentas e que caiba no lugar onde será guardada quando não está em uso.
As de plástico são normalmente as mais baratas e bonitas porém são menos resistentes que as de metal, que tem a desvantagem de serem pesadas.
As de madeira são encontradas em lojas que vendem produtos artesanais e podem custar muito mais caro, dependendo do trabalho do artesão.
Algumas pessoas guardam suas ferramentas em baldes do tipo usado para armazenar alimentos em restaurantes ou reciclados de material de obra ( tintas, impermeabilizadores e etc) .

É possível encontrar até cinturões feitos de lona ou couro que são presos nas bordas destes baldes e que contém bolsos para as miudezas e argolas e imãs para pendurar ferramentas.
Outra opção é a reciclagem daquela velha calça jeans.
Pode-se cortar as pernas da calça na altura da coxa e costurar para que se forme uma bolsa. Com o resto do tecido pode-se fazer uma tira que pode ser costurada formando uma alça . Os bolsos podem armazenar as miudezas e o interior as ferramentas.
Uma outra alternativa é a montagem de um painel de eucatex furadinho que pode ser colocado atrás da porta de um quartinho de despejo, garagem etc.
Para isso é necessário um painel de 1,50 cm x 0,70 cm e uns 3 metros de arame fino flexível. Basta colocar o painel no chão, organizar as ferramentas sobre ele e prendê-las com pedaços de arame de modo que possam ser retiradas sem que seja necessária a retirada dos arames. Uma sugestão é desenhar com caneta o contorno das ferramentas para que seus lugares fiquem demarcados facilitando na hora da arrumação.
Feitas as marcações e amarrações, basta parafusar o painel atrás da porta .Vale lembrar que neste tipo de armazenamento, as ferramentas mais pesadas devem ficar na parte de baixo e as menores e mais leves em cima.

As ferramentas e seus usos:

A artesã Dedê dos Reis, 69, residente do bairro das Perdizes em São Paulo, nos dá algumas dicas sobre algumas ferramentas e seus usos
“Usar suas ferramentas de forma indevida além de colocar em risco seu trabalho, pode ocasionar ferimentos graves.
Seguem dicas importantes de como usar suas ferramentas de modo seguro e quais as funções de cada uma delas.

Martelo:

Como quase todas as ferramentas não elétricas, o uso de martelo é bastante simples entretanto vale a pena seguir algumas dicas:
Ao bater pregos, certifique-se de que os mesmos são de tamanho adequado ao trabalho e o material a ser pregado oferece penetrabilidade e resistência suficiente para o impacto das marteladas. Martelar pregos finos e longos em madeira muito dura pode levar ao entortamento destes e danificar acabamentos. Também o risco de martelar os dedos torna-se maior.
Aliás, segurar o prego para ser martelado requer uma atenção especial. Pregos pequenos e curtos, requerem martelos leves. Pregos longos e grossos, pedem martelos mais pesados, entretanto é previdente utilizar uma furadeira e broca fina para criar um “caminho” para o prego antes de se arriscar à marteladas mais potentes.
O martelo e o prego devem estar sempre num ângulo reto e é fundamental que se use um protetor de olhos.

O alicate:

O alicate tem muitas funções e é um poderoso aliado na hora dos reparos.
Desde cortar fios e arames, torcer, apertar, beliscar e segurar objetos.
Como aliado nos reparos elétricos, o alicate isolado é fundamental para sua segurança. Mesmo com a energia desligada ( sempre desligue a energia quando fizer reparos na parte elétrica), podem ocorrer eventuais retornos ou choques inesperados. Evite usar o alicate para apertar ou desapertar porcas pois pode-se danificá-las criando-se um problema extra na hora do concerto.
Chave ajustável ou fixa:
Para girar porcas e outros elementos com rosca, use uma chave ajustável ou fixa do tipo estrela ou sextavada, conforme o tipo de porca.
Aperte as porcas firmemente, de acordo com o tipo e espessura do material, entretanto evite o aperto excessivo que pode danificar a rosca, dificultar um futuro reparo ou até mesmo quebrar o parafuso.

Chaves de fenda ou Phillips:

Aqui os tamanhos e formas dos parafusos variam muito. O importante é que a fenda ou a cabeça da chave encaixe de forma precisa na cabeça do parafuso. O tamanho certo para o parafuso certo evita danos em ambos.
Chaves de fenda podem causar graves ferimentos de perfuração no corpo. Nunca apóie objetos no colo ou partes de seu corpo para apertos.
Cuidado quando aparafusar materiais em contato com a rede elétrica. Mais uma vez, lembre-se de desligar a energia elétrica.

Utilizando serras ou serrote:

Quando houver necessidade de serrar algo, quer seja madeira ou metal, deve-se manter o objeto preso firmemente para evitar que balance ou deslize. Os serrotes ou serras possuem dentes que têm uma inclinação que serve para melhorar o desempenho de corte e deve estar sempre voltada para a frente e evitar que o objeto seja “puxado” para trás atingindo quem o opera.

Finalmente, as ferramentas elétricas como as furadeiras, tupias e serras devem ser utilizadas com extremo cuidado. O uso de luvas e protetores de olhos é fundamental.
No caso das furadeiras, deve-se considerar a força física de quem as opera. Se ao furar uma superfície a broca travar ou “engasgar”, podem ocorrer acidentes como torções até mesmo fraturas.
Se as regras de segurança forem sempre seguidas, trabalhar com ferramentas pode ser muito divertido.

E lembre-se:
Nunca deixe suas ferramentas ao alcance de crianças.”

Humanização do Ambiente Hospitalar

Muito se tem falado sobre a humanização do ambiente hospitalar e seus benefícios desde a popularização do tema com a exibição do filme Patch Adams – O Amor é Contagioso - protagonizado por Robin Willians e que conta a história de Patch Adams, um médico que decidiu fugir às regras do frio sistema de saúde americano e da divinização da figura do médico. Esse problema também ocorre no brasil e algumas poucas ações de efeito foram feitas até agora para uma mudança neste quadro por aqui. As raras ações humanizadoras normalmente se dão através do trabalho de grupos de profissionaiscomo o dos Doutores da Alegria, que leva até os pacientes e funcionários dos hospitais brincadeiras circenses adaptadas às suas rotinas. Um trabalho louvável, que tem efeito benéfico comprovado na aceleração da recuperação dos doentes e acidentados, bem como a diminuição dos níveis de estresse dos funcionários como mostram pesquisas. Seguindo uma linha parecida da dos Doutores da Alegria está o trabalho do Grupo Viva e Deixe Viver que além de brincadeiras com fantoches e algumas palhaçadas, enfatiza a leitura de livros aos pacientes com contações de histórias, leitura de poesias e etc. Este trabalho, feito com apoio de voluntários, tem se expandido e hoje, uma década depois da criação do grupo, já leva seu trabalho a 65 hospitais e casas de apoio para 17 municípios de sete estados.
Em seu Centro de Contação de Histórias mais de 700 voluntários já foram treinados e são responsáveis pela doação de mais de 100 mil horas de trabalho assistencial para mais de 200 mil pacientes, em sua grande maioria crianças.
Na cidade de Itu, Claudia Ferreira, 33 , conhecida como A-tchim-bum, faz este trabalho voluntário desde 2002, quando entrou em contato pela primeira vez com Luciana Bernardo (hoje presidente do grupo Viva e Deixe Viver) através do Doutor Safi, médico generalista, plantonista do Sanatorinhos, antiga Santa Casa de Itu, e que é um dos grandes médicos humanistas do Brasil e facilitador do grupo Doadores de Alegria, que faz um trabalho voluntário na linha do Doutores da Alegria.
Claudia que é funcionária pública e trabalha no fórum de Itu, doa suas horas vagas programadas de forma sistemática à leitura de livros infantis para os pequenos pacientes do setor de recuperação de queimados Hospital Sanatorinhos.
“Foi necessário um grande preparo mental e espiritual para que eu pudesse enfrentar a barra pesada que é uma área de queimados de um hospital. A primeira vez que entrei nesta ala do Sanatorinhos, quase desisti de tudo. Olhar uma criança deformada, conectada a aparelhos e com a expressão de dor em seus olhinhos é uma coisa muito pesada e que requer um entendimento da condição humana muito grande. Somos muito mais do que um amontoado de carne, pele e ossos. Temos nossa mente, nossa alma, nossa luz interior e infelizmente não somos programados para enxergá-las. Somos condicionados a ver e aceitar uma estética do organizado, do limpinho, do novo, do pasteurizado, da moda, do plástico, do perfeito, enfim do padronizado. Ao entrar num quarto de hospital onde o pequeno paciente teve, por exemplo, um membro amputado, temos que enxergar o humano naquela imagem. Ali está uma pessoa como nós. Uma reflexão a se fazer é se, ao perder parte do corpo ou queimar sua pele, a alma desta pessoa também se fragmenta, se queima? Seus pensamentos também se tornam fuligem? Suas emoções diminuem se um membro é perdido?
Claro que não! Ai entra a leitura...
Nela, os pacientes podem viver aventuras e emoções que naquele momento delicado, seus corpos não permitem. Uma criança pode voar numa história. Lembre-se que nem a mais saudável delas pode voar de verdade. Mas na literatura tudo pode. Podemos nos tornar animais fabulosos, reis e rainhas, bandidos e heróis, enfim tudo o que a mente quiser. E isso liberta. Vou continuar trabalhando pela libertação destas pessoas o que me dá também a gratificação e a possibilidade de me tornar personagem de minhas próprias histórias e das dos outros também...”
Como se pode perceber, estes atos humanitários não tem muitos segredos e trazem benefícios em uma escala quase que inimaginável a toda sociedade.

Papo com um ex-paciente:

Eduardo, hoje com 17 anos , ex-paciente do Instituto de Oncologia do Hospital das Clínicas em São Paulo ainda tem nas mãos as marcas de tantas agulhas de soro que era obrigado a tomar durante a recuperação de uma cirurgia para a retirada de um tumor do baço há cinco anos nos dá uma idéia do quão importante é o trabalho de humanização nos hospitais.
“Eu tinha doze anos quando ao fazer uma radiografia devido a uma dor insuportável em minha barriga o médico descobriu um nódulo em meu baço. Minha mãe ficou muito abalada apesar de tentar manter uma aparência de calma. Eu fiquei muito confuso, pois na minha cabeça, achava que eu era culpado pelo sofrimento que causava a ela. Foi no hospital, depois da cirurgia, que descobri outras também crianças que tinham passado por coisa semelhante a que passei e que isso não era culpa de ninguém. São coisas da vida. Esse contato com essas crianças foi fundamental para mim e só foi possível graças ao pessoal do Viva e Deixe Viver que promovia leitura de livros em pequenos grupos e que facilitavam a integração destas crianças. Lembro-me muito bem de uma mulher que se chamava Flor-de-Lis - Acho que era seu apelido, né? - e que leu um capítulo do livro “ O Caneco de Prata” ( Obra de João Carlos Marinho que narra uma excelente aventura da turma do Gordo – Editora Global).
Ficamos tão empolgados com a leitura que ela prometeu que estaria lá no dia seguinte para ler o próximo capítulo. Nesta noite eu nem dormi direito pensando na continuação da aventura. Nem me importei com as inúmeras picadas e o mal-estar causado pela quimioterapia.
No dia seguinte, no horário combinado, lá estávamos todos numa sala para a continuação da história e como prometido, a Flor-de-Lis apareceu e contou mais um capítulo. Ela era fantástica e dava um tom todo especial à aventura. Fazia vozes engraçadas e suas expressões acompanhavam as dos personagens.
Ao terminar, Flor nos disse que no dia seguinte não poderia vir mas prometeu que a história continuaria no mesmo lugar e horário.
Virou-se para mim e deu em minhas mãos uma cordinha toda colorida, e uma caixinha de papelão e me falou:
“Dudu: Neste exato momento eu lhe transmito a Corda da Contação! Esta corda tem poderes mágicos que vão lhe ajudar na contação do próximo capítulo do livro. Nesta caixinha, está o livro, que será lido para todos deste grupo amanhã, neste mesmo horário. Ao acabar, você deve colocar a caixinha nesta prateleira e depois de amanhã você deve passar a cordinha e a caixinha para o Carlos (outro paciente da ala) e vocês devem prometer que todos vão ler pelo menos um capítulo do livro!”.
Isso foi incrível, pois me senti ultra valorizado e responsável. Meu grupo ficou super entusiasmado e por incrível que pareça, cada um de nós tivemos a oportunidade de ler um capítulo de forma organizada e civilizada. Acho que se fosse na escola, isso nunca aconteceria. Aprendemos uma lição de cidadania num quarto de hospital! Todos nós ferrados, doloridos, dopados e entubados e ainda assim com auto-estima lá em cima e organizados, fazendo acontecer.
O que mais pode ser isso senão cura? No dia em que tive alta, fiz questão de visitar Flor-de-Lis em outro andar e pude presenciar mais uma cerimônia de entrega da Corda-da-Contação. Para seu novo “súdito”. Trocamos um sorriso gostoso e depois daquilo nunca mais a vi. “Tenho certeza de que ela era um anjo...”

A ciência do riso e do entretenimento

Estudos mostram que o contato humanizado nos ambientes hospitalares contribuem de maneira bastante significativa para uma recuperação mais rápida dos pacientes. O nível de estresse dos pacientes e funcionários dos hospitais se reduz com a presença dos grupos de leitura e entretenimento nas chamadas áreas de tensão. Desde o sistema imunológico, passando pelo cardiovascular, respiratório e até mesmo a resposta à dor são influenciados pela mudança de rotina e da estimulação sensorial pelo envolvimento com as atividades promovidas conforme atestam estudos feitos pelo Dr. Peter Spitzer, médico e diretor da Humour Foundation em Sydney na Austrália, entidade de apoio ao humor e humanização no meio hospitalar presente também nos EUA.

Norman Cousins foi o primeiro paciente que, em 1969 fora objeto voluntário de estudos que em conjunto com seu médico o Dr. Hitzing fizera análise de níveis de hormônios, endorfinas e inflamação de tecidos antes e depois de uma sessão de filmes de comédia e leitura de textos engraçados e comprovaram a influência fisiológica do riso e suas alterações na química do corpo. Desde então inúmeros estudos tem comprovado a significante melhora em pacientes expostos ao riso e entretenimento em comparação aos que não tem apoio outro além do tratamento convencional.
No Brasil, dados da UNIFESP- Universidade Federal de São Paulo atestam que o trabalho de grupos como o Doutores da Alegria ou o Viva e Deixe Viver , tem contribuído substancialmente para a melhoria do ambiente hospitalar e a recuperação de pacientes com a melhoria de suas auto-estima e são parte importante da rotina dos principais hospitais do país, especialmente nos centros de tratamento de câncer, onde os pacientes têm uma estadia mais longa e são submetidos a procedimentos rotineiros muito estressantes.

Viva e Deixe Viver - Uma história de sucesso

Valdir Cimino Diretor - Fundador do Grupo Viva e Deixe Viver nos conta como tudo começou:”Desde 1993 vinha ajudando as crianças do Hospital Emílio Ribas através de diversas formas, comprando brinquedos para as festas que periodicamente eram realizadas, para os bingos, e organizando a arrecadação de tíquetes refeição para a compra de leite. Com o passar do tempo, senti vontade de conhecer um pouco mais as crianças quem eu estava ajudando, e com uma idéia vaga do que gostaria de fazer, ou seja, observar o mundo sob um outro ângulo, os olhos das crianças, o que sentem o que pensam o que querem - o que seria muito fácil, pois já tivemos esta oportunidade um dia - difícil seria entrar em um mundo onde a maioria destas crianças se encontra doentes, carentes, como se não bastasse muitas sem família.Um dia, com minha sobrinha Violeta ao telefone, contei sobre como o ambiente hospitalar põe medo nas crianças, e disse o quanto gostaria de transformar isso, nem que fosse só um pouquinho. Então Violeta me ouviu e disse: "Tio, leia para elas".Rapidamente planejei uma forma de contar histórias, na noite anterior à minha apresentação. Desplanejei tudo, e sabe por quê?...
Através de uma conversa com Wellington Nogueira amigo há mais de 15 anos, que também é o Dr. Zinho do Doutores da Alegria, entendi que para se estar com crianças não é necessário planejar nada, tudo vale. Basta ligar o motor da atenção e do respeito que elas merecem. Entendi que desse modo, qualquer lugar pode se transformar num lugar encantado. E foi assim que resolvi dar asas à minha imaginaçãoNo dia 17 de agosto de 1997, dei início ao que posso chamar de um salto quântico em minha vida. Daí para frente passei a ouvir mais e falar o essencial, ter mais cuidado com minhas "palavras", permitir que o Pinóquio e Gepeto possam receber a ajuda dos Powers Rangers para sair da barriga da baleia, a Cinderela pode até ter joanete e nós, adultos, podemos até nos sentirmos felizes ao ouvir um "não" como esse: "não, hoje eu não quero ouvir história". É isso mesmo! Um não pode ser muito importante para quem não pode nunca negar as agulhas, os remédios, os tratamentos de um hospital. Atualmente o voluntariado vem sendo um assunto que vem sendo muito discutido no Brasil. Mas esse assunto há muito tempo faz parte da essência humana: caridade, amor, tolerância e muitos outros valores positivos. Exercitá-lo é o que faz a diferença.Viva e deixe viver é um exercício de cidadania, é a capacidade e a possibilidade de construir ou transformar, é a cooperação dos nossos "contadores e fazedores de histórias" para um mundo mais digno, em especial para as nossas crianças que farão do Brasil um País mais feliz.”
( Assessoria de imprensa do Viva e Deixe Viver)




Você também pode participar


Viva e Deixe Viver:
Para tornar-se um voluntário contador de histórias da Associação Viva e Deixe Viver, é necessário passar por um Proceso de Seleção e Treinamento, oferecido anual e gratuitamente pela entidade. Para participar, o candidato a voluntário deve aguardar a abertura de inscrições e, nesta ocasião, preencher o formulário que estará disponível no site, aguardando posterior convocação para o treinamento.
Você pode também ser um mantenedor.
Para mais informações acesse

http://www.vivaedeixeviver.org.br/como_ajudar

Doutores Da Alegria:
Por que contribuir com os Doutores da Alegria?
A causa de levar a arte do palhaço a locais inusitados, e proporcionar a experiência da alegria a públicos como a criança hospitalizada, é uma causa da sociedade.
Associando-se aos Doutores da Alegria você ou sua empresa tem a oportunidade de se tornar co-responsável pela causa da disseminação da alegria.
Saiba mais:

www.doutoresdaalegria.org.br

UNIFESP – PROJETO: BIBLIOTECA VIVA EM HOSPITAIS

CONTATOS:Roseli Monteiro Robles – Serviço Social da Pediatria – 9º andar – HSPTelefone: 11 5576 4323

http://www.unifesp.br/spdm/hsp/humaniza/p33.htm